Gostei muito deste artigo da jornalista Risoletta Miranda publicado no blog do Noblat ontem. É de uma percepção antropológica. Do hostil ao engajamento. Parabéns! Leiam
O publicitário Carlito Maia disse um dia que nós não precisamos de muito, apenas um dos outros. E nas redes sociais esse lema é o próprio conceito e uma das razões de sua existência. Trocando dados e informações criamos causas que nos tornam melhores como pessoas e como sociedade. E foi isso que aconteceu nestes dias recentes de guerra entre os traficantes e a polícia no Rio de Janeiro.
Foi interessante observar que nos primeiros dias de conflito prevalecia o raivoso e o individual. A rede é hostil. Sempre digo isso. E essa não é uma constatação negativa.
Hostil porque tem uma “fala direta” (vamos tirar dessa lista os que criticam por criticar, sem nenhuma visão construtiva dos fatos, os famosos “trolleiros”). A dinâmica é: avião atrasou, detona no Twitter. Não gosta da postura de alguém público? Tuita. Ilegal na rua? Fotografa e publica.
Ou seja, com o poder de nos conectarmos praticamente em qualquer lugar, estamos sempre muito à vontade para mostrar nosso desassossego com alguma coisa. E essa hostilidade é boa porque as empresas e governos começam a ouvir isso e a entender como feedback para melhorar. Isso é precioso. Ouvir, neste caso, é verbo imperativo.
Sobre os problemas do Rio. No início os posts eram individuais (minha rua, meu medo, minha vida, minha cidade invadida, tá tudo queimando). E havia também posts vociferantes contra quem deveria ter evitado essa situação. Nesse caso, os governos e seus líderes. Mas esse movimento individual e personalista foi tomando outra forma e antes mesmo de acontecer a reação mais contundente da polícia.
O caso da Vila Cruzeiro fez o ponto de inflexão girar de vez. Mas antes, já na quarta-feira, os posts com hashtags como paznorio começaram a entrar no ranking entre os mais citados. E daí em diante cresceu.
A própria “regulação” da rede funcionou. Aumentou o volume de quem criticava os que estavam veiculando informação não confirmada, ou seja, boatos. Subiu o tom de crítica aos individualistas e aos pregadores de pânico. Daí em diante a rede montou-se positivamente em torno do Rio: vamos sair dessa, vamos para cima deles, apoio à polícia e ao governo, é hora de dar a virada.
No final da tarde de ontem, dos 10 tópicos mais citados no mundo no ranking do Twitter, 5 eram sobre o Rio (bope, Cabral, vila cruzeiro, paz no rio, penha). Na hora da entrevista do Secretário de Segurança Pública transmitida com vídeos pelos perfis @segurancarj e @govrj, a hashtag #beltrame chegou, em 1 hora, a mais de 320 mil exibições na rede, tuitada por quase 190 mil pessoas. O @segurancarj fez Twitcam com o Secretário Edval Novaes pela manhã e às 20 hs. Vários perfis passaram a tuitar os eventos pela cidade, avisando sobre condições da cidade como o @caosrj que virou um agregador de notícias.
Trocamos o pânico e a revolta individual pelo engajamento na causa coletiva. É o movimento e o momento que mostram a face mais bonita da rede: quando ela percebe sua capacidade de mobilização e de juntar forças.
Risoletta Miranda é jornalista, tem MBA em Marketing e é diretora executiva da FSB PR Digital (área digital da FSB Comunicações)
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