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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Movimentos reivindicatórios não são "flash mob"


Escrevi este texto de opinião para o jornal  A gazeta  de ontem. Republico aqui. 

A internet estimula a organização de grupos e comunidades em torno de objetivos consensuais. Impulsiona sociabilidades à distância que incentiva ideias convergentes. As redes sociais são um elemento organizador e articulador de movimentos reivindicatórios, mas não devem alimentar ilusões. Movimentos reivindicatórios não são feitos apenas com uma conta no twitter, convidando para manifestação pública no próximo final de semana como se a comunicação trouxesse um retorno instantâneo, uma mobilização instantânea. 
Definitivamente, movimentos reivindicatórios não são "flash mob", manifestações organizadas pela internet com pessoas que nunca se viram pessoalmente com a intenção de fazer uma ação insólita e divertida.

As redes sociais não substituem os movimentos reivindicatórios nas ruas, muito menos subestimam mediações sociais e mecanismos clássicos de representação política. A ideia central é agregar aos meios convencionais as ferramentas viabilizadas pela internet.

Mesmo promissoras, ainda é tímida a ressonância das redes sociais. Apenas um terço dos brasileiros tem acesso à internet. O cenário ainda é de forte concentração da mídia, com o consequente controle ideológico sobre o que é difundido. 
Um bom exemplo de apoio das redes sociais aos movimentos reivindicatórios foi a Lei da Ficha Limpa. Nenhuma outra teve 1,6 milhão de autores. Além disso, nunca se provocou um ativismo tão forte na internet, o que foi essencial para a aprovação do projeto. As redes sociais e os sites dos movimentos reivindicatórios envolvidas exerceram um papel de mobilização sem precedentes.
A Lei da Ficha Limpa provou que a mobilização social pode ser forte e decisiva. As teias sociais são compostas por grupos que abrangem movimentos reivindicatórios e segmentos em busca de afirmação. Os interesses são extensos: igualdade racial, de gênero e etária, sustentabilidade ambiental, inclusão econômica e aprimoramento de padrões educacionais estão entre as bandeiras dos movimentos sociais. 

Apesar da crescente, a militância nas redes sociais está longe de superar a exclusão digital. É preciso ter consciência dos limites e alcance do ativismo virtual, evitando a ingenuidade dos que imaginam revolucionar a sociedade a partir da Internet. Nada supera o relacionamento.

Ricardo Nespoli é jornalista, especialista em Antropologia Cultural pela Universidade de Roma e mestre em Tecnologia da Informação e Comunicação pela Estácio de Sá-RJ.

Fonte: http://gazetaonline.globo.com

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