A revolução trazida pela internet está mudando a natureza não só dos jornais, mas de todos os meios de comunicação. Para o jornalista e escritor Matias Molina, cabe aos veículos encontrar seu lugar na “superestrada de informação” criada com a banda larga. Em especial para os jornais, o futuro depende de como eles vão lidar com as suas versões digitais. Autor do livro Os Melhores Jornais do Mundo, Molina está fazendo estudos para preparar uma versão equivalente sobre os veículos brasileiros, que deve ser lançada em 2010. Molina foi correspondente em Londres e diretor de redação da Gazeta Mercantil, criador e editor da revista Exame e editor de Economia da Folha de S. Paulo. Espanhol, hoje morando em São Paulo, Molina diz que é dever dos jornais analisar e hierarquizar o grande volume de informações disponível atualmente.
Qual o risco de a atual crise de circulação de jornais comprometer a independência da imprensa?
No curto prazo eu não estou vendo este perigo. A queda de circulação dos jornais no Brasil atualmente se deve principalmente à questão econômica conjuntural. No Brasil, quando a economia retoma o crescimento, os jornais voltam a crescer. Isso aconteceu na queda de circulação dos anos 90. Os jornais voltaram a crescer a partir de 2004 e, basicamente, até o ano passado. Em outros países sim, como nos Estados Unidos, há uma queda contínua, lenta e possivelmente irreversível. Mas aqui não vejo isso. Alguns, ao contrário, tiveram aumento de circulação.
Mas os grandes jornais têm hoje menos leitores do que tinham no passado...
Sim. Muitos não voltaram aos patamares anteriores depois das quedas. Mas é preciso considerar que houve um outro fenômeno: o lançamento de muitos jornais, com circulação altíssima. No Brasil, nunca se leu tanto jornal como no ano passado. O mercado brasileiro é muito dinâmico. Nos últimos 10 ou 15 anos, foram lançados mais de 150 jornais. O número de leitores cresceu, mas a média ficou menor porque cresceu também o número de veículos. Não é uma questão, portanto, de dizer que o mercado está encolhendo.
Uma sociedade pode prescindir de um jornal de qualidade?
Não. Um jornal de qualidade, formador de opinião, é extremamente importante. Uma sociedade sem jornais de qualidade é uma ameaça para a democracia e para a própria sociedade.
Que pontos definem um jornal de qualidade?
Independência, credibilidade, preocupação com assuntos relevantes e com a cultura. Também é preciso uma relação de independência com o poder e o cuidado com a palavra escrita. Depois, uma visão ampla da sociedade e procurar fazer um grande esforço para a isenção da informação. Existe uma grande discussão sobre se existe ou não a objetividade. Eu acredito que a maneira mais correta de abordar esta questão é a do jornal Le Monde: ele dizia que a objetividade não existe, mas a honestidade sim. E a verdade, custe o que custar. Sobretudo se custar.
O senhor está preparando um livro sobre os grandes jornais do Brasil. De modo geral, estes jornais de qualidade estão presentes na imprensa brasileira?
Sim, temos jornais sérios e de qualidade, preocupados com as questões públicas. Através de perspectivas diferentes, mas preocupados com o país.
Na grande indefinição de como ficarão os meios em um futuro próximo, o senhor arriscaria dizer qual será o papel dos jornais, e como eles estarão daqui a dez anos?
Como vão estar, ninguém sabe. E eu também não me arrisco a dizer. Mas o que eu acho é que os jornais terão que dar mais atenção às suas versões digitais. Não apenas com o seu conteúdo, mas com as características naturais da internet. São linguagens completamente diferentes. Com a ampliação da banda larga, os meios terão que investir muito no uso de imagens, por exemplo.
Eu vejo a internet como uma revolução que está alterando não só os jornais, mas todos os meios de comunicação. Toda a comunicação vai agora através da banda larga, a famosa ‘superestrada de informação’. O jornal vai para a internet, mas também a televisão. E isso vai mudar totalmente a natureza destes meios. A televisão aberta também está sendo muito afetada pela internet. Mas não significa que ela vai acabar. Assim como não é o caso dos jornais. Possivelmente eles vão perder um pouco mais de circulação no longuíssimo prazo, mas vão continuar sendo muitíssimo importantes para qualquer sociedade.
Por quê? O que os jornais têm que outros meios – por mais inovadores que sejam – não têm?
O jornal é um espaço muito mais propenso à reflexão do que outros meios, como a televisão, por exemplo. Isso significa que os jornais terão que ser muito mais analíticos. Outro papel dos jornais é hierarquizar informações. Não falta informação, falta colocá-la em ordem. E o jornal faz isso, organiza, explica, coloca a perspectiva da informação.
E como se diferenciar das revistas?
A diferença é muito clara: o jornal é diário, e a revista não. O jornal tem uma rapidez, uma agilidade diferente. Ele está muito mais em cima do fato, e as revistas têm uma visão de mais longo prazo. Os jornais capturaram um pouco da função das revistas de fazer análise. Só que, com a internet, as revistas não têm mais uma periodicidade definida. Estão direto também na internet e, por isso, entraram também na seara dos jornais. A internet está mudando toda a natureza dos meios de comunicação.
* Publicada no dia 24 de abril de 2009 / Cinthia Scheffer - MIDIAEMARKETING@GAZETADOPOVO.COM.BRNo curto prazo eu não estou vendo este perigo. A queda de circulação dos jornais no Brasil atualmente se deve principalmente à questão econômica conjuntural. No Brasil, quando a economia retoma o crescimento, os jornais voltam a crescer. Isso aconteceu na queda de circulação dos anos 90. Os jornais voltaram a crescer a partir de 2004 e, basicamente, até o ano passado. Em outros países sim, como nos Estados Unidos, há uma queda contínua, lenta e possivelmente irreversível. Mas aqui não vejo isso. Alguns, ao contrário, tiveram aumento de circulação.
Mas os grandes jornais têm hoje menos leitores do que tinham no passado...
Sim. Muitos não voltaram aos patamares anteriores depois das quedas. Mas é preciso considerar que houve um outro fenômeno: o lançamento de muitos jornais, com circulação altíssima. No Brasil, nunca se leu tanto jornal como no ano passado. O mercado brasileiro é muito dinâmico. Nos últimos 10 ou 15 anos, foram lançados mais de 150 jornais. O número de leitores cresceu, mas a média ficou menor porque cresceu também o número de veículos. Não é uma questão, portanto, de dizer que o mercado está encolhendo.
Uma sociedade pode prescindir de um jornal de qualidade?
Não. Um jornal de qualidade, formador de opinião, é extremamente importante. Uma sociedade sem jornais de qualidade é uma ameaça para a democracia e para a própria sociedade.
Que pontos definem um jornal de qualidade?
Independência, credibilidade, preocupação com assuntos relevantes e com a cultura. Também é preciso uma relação de independência com o poder e o cuidado com a palavra escrita. Depois, uma visão ampla da sociedade e procurar fazer um grande esforço para a isenção da informação. Existe uma grande discussão sobre se existe ou não a objetividade. Eu acredito que a maneira mais correta de abordar esta questão é a do jornal Le Monde: ele dizia que a objetividade não existe, mas a honestidade sim. E a verdade, custe o que custar. Sobretudo se custar.
O senhor está preparando um livro sobre os grandes jornais do Brasil. De modo geral, estes jornais de qualidade estão presentes na imprensa brasileira?
Sim, temos jornais sérios e de qualidade, preocupados com as questões públicas. Através de perspectivas diferentes, mas preocupados com o país.
Na grande indefinição de como ficarão os meios em um futuro próximo, o senhor arriscaria dizer qual será o papel dos jornais, e como eles estarão daqui a dez anos?
Como vão estar, ninguém sabe. E eu também não me arrisco a dizer. Mas o que eu acho é que os jornais terão que dar mais atenção às suas versões digitais. Não apenas com o seu conteúdo, mas com as características naturais da internet. São linguagens completamente diferentes. Com a ampliação da banda larga, os meios terão que investir muito no uso de imagens, por exemplo.
Eu vejo a internet como uma revolução que está alterando não só os jornais, mas todos os meios de comunicação. Toda a comunicação vai agora através da banda larga, a famosa ‘superestrada de informação’. O jornal vai para a internet, mas também a televisão. E isso vai mudar totalmente a natureza destes meios. A televisão aberta também está sendo muito afetada pela internet. Mas não significa que ela vai acabar. Assim como não é o caso dos jornais. Possivelmente eles vão perder um pouco mais de circulação no longuíssimo prazo, mas vão continuar sendo muitíssimo importantes para qualquer sociedade.
Por quê? O que os jornais têm que outros meios – por mais inovadores que sejam – não têm?
O jornal é um espaço muito mais propenso à reflexão do que outros meios, como a televisão, por exemplo. Isso significa que os jornais terão que ser muito mais analíticos. Outro papel dos jornais é hierarquizar informações. Não falta informação, falta colocá-la em ordem. E o jornal faz isso, organiza, explica, coloca a perspectiva da informação.
E como se diferenciar das revistas?
A diferença é muito clara: o jornal é diário, e a revista não. O jornal tem uma rapidez, uma agilidade diferente. Ele está muito mais em cima do fato, e as revistas têm uma visão de mais longo prazo. Os jornais capturaram um pouco da função das revistas de fazer análise. Só que, com a internet, as revistas não têm mais uma periodicidade definida. Estão direto também na internet e, por isso, entraram também na seara dos jornais. A internet está mudando toda a natureza dos meios de comunicação.
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