Dito assim, parece uma heresia, porque os cursos de graduação de jornalismo sempre foram caudatários da indústria dos jornais. Normalmente estavam, e em grande parte ainda continuam, prestigiando mais a parte teórica da comunicação, deixando para os empreendedores do jornalismo a solução dos problemas práticos da atividade.
Mas a internet está mudando radicalmente esta situação, como mostram algumas experiências acadêmicas como na Escola de Comunicação Pública da Universidade de Syracuse, e na Universidade Columbia, em Nova Iorque. Ambas tomaram a polêmica iniciativa de mudar completamente o currículo de graduação em jornalismo, ao introduzir uma série de disciplinas técnicas, quase todas na área das ciências da computação.
Como era de esperar, a mudança provocou uma forte reação entre alguns professores e entre os defensores dos currículos convencionais nas faculdades de jornalismo. Mas em compensação, foi aplaudida pela maioria dos chamados gurus da Web e pesquisadores da comunicação online, preocupados com a falta de inovações na área do jornalismo na WEB.
O crítico da mídia norte-americana Ken Auletta publicou no fim do ano passado um livro no qual compara o fenômeno Google com a crise no jornalismo para afirmar que exploração de novos caminhos na área de comunicação passa obrigatoriamente pela computação e pela teoria geral dos sistemas. Para ele, os engenheiros que criaram o site de buscasGoogle fizeram mais pelo jornalismo da Web do que todas as faculdades dos Estados Unidos.
Auletta levou muita bordoada na academia por conta de uma afirmação tão audaz e tão vulnerável a críticas de merchandizing em favor da empresa Google, mas acabou parcialmente redimido depois do anúncio da Columbia de que em 2011 começam a ser oferecidos cursos interdisciplinares de graduação, combinando eletrônica e jornalismo.
A interdisciplinaridade, onde várias disciplinas acadêmicas participam de um mesmo projeto, parece ser a chave para esta reforma radical no ensino do jornalismo, um fenômeno que começa a se esboçar com um atraso de no mínimo 10 anos. O mundo da comunicação online cresceu vertiginosamente, mais com base no empirismo e na criatividade individual do que na pesquisa e experimentação, em universidades.
Aqui no Brasil, a Universidade Federal de Santa Catarina tem um programa na área de produção, gestão e disseminação do conhecimento que já se situa dentro da nova tendência em direção à interdisciplinaridade. O programa está dentro da área da engenharia e, paradoxalmente, é visto como um concorrente pela escola de jornalismo da mesma universidade, embora vários jornalistas façam pós-graduação com engenheiros e administradores do conhecimento.
A crise no modelo de negócios das empresas jornalísticas acabou com os financiamentos para pesquisas na área da comunicação. Sem apoio corporativo, a responsabilidade recai agora sobre as universidades mas elas estão semi-paralisadas pelo corporativismo do corpo discente.
Pela primeira vez na história da imprensa, o segmento empresarial olha agora para a academia como a sua última grande esperança de escapar do beco sem saída em que se meteu depois que a Web deu ao público a possibilidade de participar ativamente da produção e publicação de notícias.
O debate entre tecnicistas e teóricos no ensino do jornalismo não vai ser ameno mas oferece uma possibilidade de evitar uma polarização que é ruim para os dois lados. O fato concreto é que os novos softwares e gadgets eletrônicos geram mudanças de comportamentos e de valores que precisam se vistas no contexto da social, pois é nele que elas adquirem valor.
A empresa Google, por exemplo, surgiu como um software gratuito para buscas na internet, mas é hoje a primeira mega-empresa de mídia eletrônica da era digital. Em vez de ser vista como parceira, ela foi tratada como inimiga e concorrente da imprensa mundial, que está pagando um preço altíssimo por esta atitude.
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