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terça-feira, 23 de março de 2010

E o político se vê obrigado a dar uma resposta madura e imediata


Vitor Vogas
vvogas@redegazeta.com.br

Rádio e jornal, com certeza. Televisão, nem se fala. As mídias tradicionais devem continuar influenciando o voto do eleitor no Espírito Santo. Contudo, terão que abrir espaço para as novas mídias digitais que progressivamente vão despertando o interesse das pessoas e as mobilizando no espaço virtual, sobretudo quando se trata dos mais jovens.

Essa é a tendência revelada por um dado da pesquisa Futura. Segundo o levantamento, metade dos eleitores capixabas considera que as chamadas redes sociais (como Orkut, Twitter e blogs) são boas ferramentas de campanha para os candidatos. A opinião foi manifestada por 49,9% dos 800 eleitores ouvidos, contra 36,6% que entendem o contrário.

Outro dado extraído da amostra indica ainda mais claramente que as redes sociais vieram mesmo para ficar: ao se estratificar os resultados de acordo com a idade dos entrevistados, percebe-se nitidamente que, quanto mais jovens são os eleitores, maior a importância que eles tendem a atribuir às redes sociais como instrumentos de campanha.
Para se ter uma ideia, considerando-se unicamente os eleitores de 16 a 19 anos, chega a 57,1% o índice dos que acham as redes sociais boas ferramentas eleitorais. Isolada a faixa etária de 20 a 29 anos, o percentual é próximo: 56,7%.

Na outra extremidade, demarcando o contraste, só 32,6% dos eleitores com 60 anos ou mais sustentam a mesma opinião. Na mesma faixa etária, 31,6% discordam de que as redes sociais sejam boas ferramentas, e expressivos 35,8% não souberam responder à questão, o que denota o desconhecimento ou a baixa utilização desses recursos por parte dos eleitores mais idosos.

No que se refere à renda dos entrevistados, a pesquisa apresenta outras curva eloquente: a percepção de que as redes sociais são boas ferramentas de campanha cresce juntamente com o poder aquisitivo. Os eleitores que pensam assim estão concentrados nas classes A e B, justamente aquelas que, pelo fator econômico, costumam ter mais acesso à internet no país. O índice aí chega a 60,8%, enquanto nas classes C, D e E fica em 48,4%.

Análise
Segundo o professor Ricardo Nespoli, mestre em Tecnologia da Informação e Comunicação, esses números sinalizam que o Brasil está mudando na forma de relacionamento dos candidatos com seus eleitores, embora essa mudança ainda seja "extremamente incipiente". "Na verdade, é apenas um vislumbre de uma mudança que se propõe a ser um amadurecimento do relacionamento entre os políticos e seus representados", diz o especialista.

Nespoli defende que essas redes proporcionam um diálogo real entre os candidatos e cada eleitor, individualmente, dada a própria estrutura de comunicação que as caracteriza - onde, em vez de um só emissor falando para muitos ao mesmo tempo, sem possibilidade de interação, o que se tem é um contato direto e interativo entre cada parte do processo, isto é, um diálogo.

"Os pares estão mais próximos. A rede proporciona uma interação mais direta e uma possibilidade de diálogo. E o político se vê obrigado a dar uma resposta madura e imediata", afirma.

Para o professor, os políticos em geral ainda não utilizam o potencial dessas mídias digitais de maneira inovadora, mas, dependendo do político em questão, a rede social pode até se voltar contra ele. "Quando ele usa as redes sociais, se não for um candidato com bagagem e conhecimento, essa pessoa vai se tornar desprezível dentro das redes sociais. Na TV isso não ocorre porque ali eles constroem uma imagem e fica mais fácil de acreditar. Mas, se o político é bom, ele tende a ganhar carisma, sim."

Propostas dos candidatos vão pesar na decisão
Candidatos com propostas fracas e um histórico negativo a exibir terão poucas chances nas eleições de outubro. É a conclusão a que se pode chegar a partir do levantamento realizado pelo Instituto Futura. Para o eleitorado capixaba, o fator mais importante ao escolher os candidatos serão as propostas de cada um, opção que foi apontada por 28,5% dos eleitores ouvidos pela Futura. O histórico do candidato será levado em conta por 28,4%. Conhecer as obras já realizadas pelo candidato vai pesar na hora da escolha do candidato para 20,8% dos eleitores. A intimidade e a proximidade também são citados por mais de 10%. Conhecer o candidato pessoalmente será importante para 18%, e o candidato morar na mesma cidade, bairro, ou local de moradia será determinante para 16,6%. Os eleitores deram menos importância para o fato de o candidato ser amigo (5,6%), ser simpático e carismático (4%). Alguns admitiram priorizar os candidatos que lhes tenham feito algum "favor" (3,4%) ou dado dinheiro (3,2%).

"Twitter permite contato direto com o político"
Recém-formado em Comunicação Social pela Ufes, Thalles Waichert não hesita em responder que vai usar as redes sociais para definir seus candidatos este ano. Ele fala com conhecimento: trabalha como assessor de mídia online em uma empresa que desenvolve projetos em ambientes na internet. O jovem de 22 anos avalia que, apesar de o percentual de aprovação do uso das redes nas campanhas superar o de reprovação, o número só não é maior porque as pessoas ainda estão muito presas aos antigos paradigmas. "A rejeição se dá porque as pessoas ainda valorizaram muito uma forma de fazer política voltada para as massas. Não que isso tenha que ser deixado de lado, mas muita gente ainda olha para a política como se ela se limitasse à ideia de um político falando para multidões." Para ele, essas mídias não vêm para substituir as tradicionais, mas, em verdade, para complementá-las. "Mídias como o Twitter permitem o contato direto do político com cada indivíduo. É uma nova forma de se entrar em contato com o público. O efeito que elas podem proporcionar vai se somar ao das tradicionais." Thalles defende, ainda, que os políticos não devem se limitar a usar essas mídias como plataforma política. "O ideal é que eles as utilizem como uma pessoa do cotidiano, de forma muito mais convincente do que beijando criancinhas."

Análise
"A rede proporciona um diálogo verdadeiro"
Ricardo Nespoli - Mestre em Tecnologia da Informação e Comunicação

A maioria está utilizando a TV e vai utilizar nas eleições, em um país onde até a classe média tem dificuldade de ter internet banda larga. Mas aqueles que utilizam a internet são os futuros produtores e formadores de opinião deste país, já querendo conversar de uma forma mais adulta e mais madura com esses políticos.
Eles não aceitam que os políticos apenas lhes digam o que eles deveriam fazer, de uma forma infantil, emocional, superficial ou sensacionalista. Esse público que está na internet quer uma conversa mais madura com os candidatos, e a rede social estimula um discurso mais maduro, crítico e participativo.
Na rede, se eu sou uma pessoa pública, alguém vai falar diretamente comigo e me incomodar, o que vai me obrigar a dar uma resposta madura e imediata. A rede proporciona um diálogo verdadeiro.

As redes sociais
Twitter. É uma rede social e servidor para microblog que permite aos usuários que enviem e leiam atualizações pessoais de outros contatos (em textos de até 140 caracteres, conhecidos como "tweets"), através da própria Web, por SMS e por softwares específicos. As atualizações são exibidas no perfil do usuário em tempo real e também enviadas a outros usuários que tenham assinado para recebê-las. O serviço é grátis na internet, mas usando SMS pode ocorrer cobrança da operadora telefônica.

Orkut. É uma rede social filiada ao Google, criada em 2004 com o objetivo de ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. O alvo inicial do Orkut eram os Estados Unidos, mas a maioria dos usuários são do Brasil e da Índia. No Brasil é a rede social com maior participação de brasileiros, com mais de 23 milhões de usuários em janeiro de 2008, e o site mais visitado. É um sistema virtual que possibilita a conexão entre pessoas e a afiliação delas a comunidades. Os indivíduos são mostrados em forma de perfis, é possível receber conexões diretas (amigos) e indiretas (amigos dos perfis), e também como organizações sob forma de comunidades e ferramentas de interação variadas, tais como fóruns para comunidades.

MSN. É um programa da mensagens instantâneas criado pela Microsoft Corporation. O serviço nasceu a 22 de Julho de 1999, anunciando-se como um serviço que permitia falar com uma pessoa através de conversas instantâneas pela Internet. O programa permite que um usuário da Internet se relacione com outro que tenha o mesmo programa em tempo real, podendo ter uma lista de amigos "virtuais" e acompanhar quando eles entram e saem da rede. Ele foi fundido com o Windows Messenger e originou o Windows Live Messenger.

Facebook. É um website de relacionamento social lançado em 4 de fevereiro de 2004. Foi fundado por Mark Zuckerberg, um ex-estudante de Harvard. Inicialmente, a adesão ao Facebook era restrita apenas aos estudantes da Universidade Harvard. Hoje, o website possui mais de 120 milhões de usuários ativos. É gratuito para os usuários e gera receita proveniente de publicidade. Usuários criam perfis que contêm fotos e listas de interesses pessoais, trocando mensagens privadas e públicas entre si e participantes de grupos de amigos. A visualização de dados detalhados dos membros é restrita para membros de uma mesma rede ou amigos confirmados.

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